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Lendo LESKOV

Nikolai Semiónovich Leskov

1831-1895

 

 

 

Leskov nasceu em 1831 em Gorokhovo, na província de Orel. Seu pai era originário de uma família de eclesiásticos e sua mãe era filha de um aristocrata moscovita. Ele era o mais velho de sete filhos. Aos 15 anos, abandonou os estudos formais. Após a morte do pai, em 1847, mudou-se para Kiev, na Ucrânia, onde trabalhou em serviços administrativos. Durante oito anos, assistiu aulas na Universidade local, aprendeu ucraniano e polonês, e leu compulsivamente. Em 1857, começou a trabalhar como representante de Alexander Scott, marido de uma de suas tias. Durante três anos viajou pelas províncias russas e enviava cartas ao tio relatando o que observava nas viagens. A qualidade desses relatos chamou a atenção para o seu talento de escritor e ele foi encorajado a escrever.

Ele foi definido por Leon Tolstói (1828-1910) como "escritor do futuro", foi considerado como mestre por Tchekhov e foi descrito por Walter Benjamin como exemplo de narrador (Contador de histórias). No entanto, em vida, ele foi quase sempre mal visto na Rússia devido a questões literárias, políticas e ideológicas.

No âmbito da literatura, na Rússia do século XIX, para que uma produção literária fosse considerada como séria, deveria ser escrita no gênero romance ou novela realística, e deveria refletir fielmente a vida. Leskov, nadando contra a corrente, dedicou-se quase inteiramente aos contos e novelas. Do ponto de vista político e ideológico, ele conseguiu desagradar tanto ateus revolucionários como ortodoxos monarquistas e, o preço a pagar foi ter que esperar 30 anos para ver surgir dois artigos críticos sobre sua obra. Um deles tinha como título “Um talento doentio”.

Em 1861, aos trinta anos, instalou-se em Petersburgo e iniciou sua carreira de jornalista. Era sua primeira experiência em uma cidade grande em uma época de muita polêmica e contradições e ele acabou se deixando envolver em muitas delas.

O tzar Alexandre II (1818-1881) havia decretado a emancipação dos servos que foi seguida por diversas reformas e que geraram reações contra e a favor. Uma parte da população acreditava que realizar reformas progressivas seria o melhor caminho para a Rússia enquanto outra parte achava que as mudanças deveriam ser mais radicais. Dentre esses últimos, havia os chamados “niilistas” ou “homens novos” designação usada na imprensa da época e que apareceu na literatura russa na obra Pais e filhos de Ivan Turguêniev (1818-1883), publicada em 1862, na qual o personagem Arkadi Kirsanov explica o termo “niilista” para seu pai como sendo “uma pessoa que não se curva diante de nenhuma autoridade, que não admite nenhum princípio aceito sem provas, com base na fé, por mais que esse princípio esteja cercado de respeito”. Os “niilistas” serão um tema recorrente na sua obra literária.

​Segundo Jean-Claude Marcadé (ESTUDOS), a atividade jornalista do escritor é uma parte muito importante de sua obra. Ele escreveu mais de seiscentos artigos nos quais é difícil distinguir o jornalista do escritor. Neles já se encontravam as sementes do seu estilo literário (criações verbais, digressões, hipérboles, humor, sátira) usados no tratamento de temas que seriam desenvolvidos posteriormente em sua obra literária.

Nesses artigos, a maioria com conteúdo de crítica social sobre a classe operária, o alcoolismo, a situação da classe médica, a corrupção no serviço público, a emancipação feminina, entre outros, ele denunciava com veemência as mazelas da vida social na Rússia e cobrava soluções nas áreas de educação, higiene, moralidade pública bem como uma atitude humana para com os desfavorecidos ou condenados. Além de revelar o seu talento literário, sua atividade jornalística já mostrava os seus interesses e sua tendência a abordar assuntos polêmicos com intransigência e muitas vezes de forma desastrosa que contribuíram para seu isolamento da sociedade literária.

Algumas situações descritas nos artigos apareceriam posteriormente em seus contos e novelas, confirmando o que nos disse Walter Benjamin (ESTUDOS), “O narrador retira da experiência o que ele conta: sua própria experiência ou a relatada por outros, e incorpora aquilo que foi narrado  à experiência dos seus ouvintes”.

Da experiência adquirida em andanças pela Rússia, ele extraiu grande parte da sua narrativa e do material linguístico que formaria a estrutura de suas futuras histórias: contos e lendas orais, provérbios, frases pitorescas, dialetos, vulgarismos. Algumas narrativas serão escritas sob a forma do Skaz (conto oral popular russo).

Na verdade, ele não foi o primeiro a usar a forma do skaz: ele foi precedido por “ruralistas” como Vladimir Dahl ou “arcaístas” como Alexander Veltman e também por Nikolai Gógol que, com  O Capote, publicado em 1843, forneceu à literatura russa aquilo que se tornaria um modelo canônico do skaz: um texto escrito que reproduz os códigos da oralidade (da voz) e que traz à tona modalidades de sua expressão e transmissão. Dentro do skaz, o lugar do herói cabe ao narrador (o contador de histórias), e é na linguagem que os acontecimentos surgem.

Dizem que suas escolhas ousadas o conduziram a antecipar as experiências estéticas modernas que viriam a se fixar apenas no início do século XX. Talvez isso explique o fato de sua obra ter sido incompreendida e mal aceita pelos críticos literários da época. 

Embora em vida ele tenha sido relegado ao ostracismo, sua obra resistiu graças principalmente ao escritor Máximo Górki (1868-1936). Além dele, contribuíram também para o reconhecimento da importância de sua obra, escritores como Anton Tchekov (1860-1904), Ivan Búnin (1870-1953) , Eugéni Zamyatin (1884-1937) e Mikhail Zóshchenko (1894-1958) que são reconhecidos como continuadores de Gógol  e de Leskov. No início do século XX, iniciou-se dentre os escritores russos uma espécie de “resgate” de sua obra e Leskov finalmente passou a figurar no cânone da literatura russa. Entre 1956 e 1958, foram publicados os onze volumes das Obras Reunidas de Leskov, pela Editora Estatal de Belas Letras em Moscou, cuja lista encontra-se na página RUSSO e serviu de base para a construção deste site.

Fora da Rússia, no início do século XX, ele foi citado por alguns intelectuais, dentre os quais, no ocidente, destaca-se o famoso ensaio de Walter Benjamin, “O Narrador: Considerações sobre a Obra de Nikolai Leskov” (ESTUDOS), no qual aponta o autor como um narrador ideal e chama a atenção para a singularidade da sua estética. 

Entre 1921 e 1924 várias obras foram traduzidas para o alemão e publicadas em diversas coletâneas de contos e novelas de Leskov. Em 1925, as Edições Beck publicaram oito volumes das Obras completas de Leskov e um nono volume com uma biografia escrita por Erich Müller. Há documentos que confirmam que Benjamin descobriu Leskov nessa edição alemã. Atualmente, a Alemanha continua sendo o país onde existem mais traduções e trabalhos críticos sobre sua vida e sua obra. 

A partir de 1892, algumas traduções foram publicadas na França, na Itália, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Posteriormente, algumas delas foram reimpressas ou reeditadas, muitas em forma de coletâneas exclusivas de obras dele.

No Brasil, até o momento, encontramos as traduções de:

- Três contos/novelas publicados em coletâneas/antologias de contos russos.

- Três livros contendo novelas/contos exclusivos de Leskov.

- Três coletâneas de contos exclusivos de Leskov, contendo traduções de contos mencionados por Benjamin em seu ensaio.

As listas das obras traduzidas estão nas páginas INGLÊS - FR / IT - PT / ES organizadas por ano de publicação da Obras reunidas em onze volumes. Moscou, 1958, que se encontram listadas na página RUSSO.

Nas páginas TRADUTORES encontra-se o material sobre a vida de seus tradutores que consegui reunir pesquisando na internet e que me surprenderam pelas circunstâncias que os levaram até a obra de Leskov. Encontrei situações muito especiais nas quais as histórias deles se inserem em momentos históricos mundiais do início do século XX, ou seja, histórias dentro de histórias o que nos coloca na direção da obra de Leskov.

Na página ESTUDOS são apresentados livros, teses e artigos sobre sua vida e sua obra publicadas nos idiomas do site até o presente momento.

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